Depressão? A psicanálise pode ajudar.
José Benedito Ferreira de Souza/Médico Cirurgião e Clínico Geral, Pós-graduado em Psiquiatria e Psicanalista pelo IBPC - Instituto Brasileiro de Psicanálise Contemporânea
Do ponto de vista da Psicanálise, a Depressão é um sintoma emblemático
de sofrimento contemporâneo, dadas as circunstâncias em que o indivíduo se encontra,
mergulhado na atual quadra civilizatória. Ao tempo de Freud, na era Vitoriana, as
circunstâncias eram outras e conduziam as pessoas, principalmente as mulheres, a uma
condição clinica chamada histeria a qual levou o mesmo Freud a desenvolver esse novo
conhecimento chamado Psicanálise.
Há muito se diz que ela é o mal do século, porém, de poucos anos para cá
parece ter havido um recrudescimento dessa forma de sofrimento que alcança,
democraticamente, todas as classes sociais, todas as faixas etárias e todos os gêneros, com
variações aqui ou acolá, mas não poupando nenhum deles.
Merece destaque o fato de que ela já era descrita desde os tempos de
Homero que, no século VIII a.C., na Ilíada, descreve o personagem Belofonte, herói perseguido
pelos deuses, por ter almejado escalar o céu e que padece de grave melancolia: ”…. Objeto de
ódio dos deuses, ele vagava só na planície de Aleia, o coração devorado de tristeza, evitando
os vestígios dos homens”.
Durante séculos, a teoria hipocrática dos quatro humores (Hipócrates, o
pai da Medicina, que viveu de 460 a.C a 370ª.C na Grécia), a descreveu com o nome de
Melancolia, a doença da “ bile negra” e era conduzida sob esta perspectiva.
Na atualidade, ela se caracteriza por variadas formas de expressão de
sofrimento emocional, como um sentimento de vazio, de tédio, de desesperança, de
desânimo, de tristeza, de alterações do apetite e do sono e de outras sensações que
representam um estado de rebaixamento do humor e que tem diversos graus de
comprometimento do indivíduo, mas, que assume nuances de gravidade quando
comprometem o dia a dia do paciente e interferem no seu desempenho familiar, social ou
profissional.
Assume ares de especial gravidade quando se instala o risco de suicídio
iminente (é uma das principais causas de suicídio). Daí a necessidade de um tratamento
efetivo que permita o restabelecimento da condição de saúde mental do paciente, bem como
previna as recidivas, que são muito frequentes.
A Psicanálise, ao abordar a subjetividade humana de cada indivíduo,
revisitando “um passado que não passou ” , que cada um de nós carrega dentro de si e que,
através de técnicas próprias, busca alcançar esse espaço atemporal da mente humana a que
Sigmund Freud chamou de INCOSNCIENTE, se constitui em um recurso extraordinariamente
valioso, capaz de colaborar decisivamente para um desfecho favorável nos casos de depressão
e de outros transtornos mentais que afligem a alma humana, nesses conturbados tempos de
individualismo e de velozes alterações dos valores humanos e que constituem o chamado
“mundo líquido”( de Zygmunt Bauman) , a pós-modernidade e a pós-verdade, onde as versões
dos fatos são mais importantes que os próprios fato. Tudo isso se constituindo em fatores
desestabilizadores para o equilíbrio emocional das pessoas.
Finalmente, salientar a necessidade de se fazer um diagnóstico correto
através de um exame psiquiátrico, um exame clínico geral, avaliação neurológica, exames
medicamentoso adequado conduzido por um psiquiatra, também quando necessário.