Édipo, Adão e a Psicanálise

Nilton de Oliveira / Psicanalista


O texto bíblico que narra o mito de Adão e Eva traz em seu conteúdo grande parte dos comportamentos humanos exatamente como o mito de Édipo e com mesmo objetivo, o qual seja, objetivo pedagógico ensinando obediência as leis, comprometimento mas, também apresentando o engodo, a mentira etc. É sobre o que se alinha e se desalinha nestas historias que pretendo comparar e expor. Claro tendo como fiel da balança exatamente as bases de fundamentação da psicanálise.

Começaremos transcrevendo aqui o Mito de Édipo Rei, retirado de “Édipo” O solucionador de problemas, de Thorwald Dethelefsen (1997) pág. 75-79.

 

O mito de Édipo Rei

Édipo faz parte da estirpe de Cadmo, herói que fundou a cidade de Tebas. Cadmo pertencia à quinta geração dos reis primordiais, que nasceram do casamento taurino de Zeus com Jo, que tinha forma de vaca. Cadmo foi iniciado nos Mistérios de Samotrácia; durante essa festa, conheceu sua noiva Harmonia, e dessa união nasceu Sêmele. Com Sêmele, Zeus concebeu Dionisio, deus de grande importância para a compreensão da tragédia. Quando Zeus apareceu a Sêmele em forma de raio, ela foi queimada e junto com ela o palácio de Cadmo, que em seguida tornou-se santuário de Deméter. Do corpo carbonizado de Sêmele, Zeus retirou o pequeno Dionisio, levando-o consigo. Polidoro, filho de Cadmo, ficou com a regência de Tebas, que em seguida passou a Lábdaco e posteriormente, ele foi entregue a Laio, pai de Édipo.

Laio quer dizer “rei do povo”. Quando jovem, buscou abrigo com Pélops, em Corinto, onde ensinou a Crisipo, filho de Pélops, a arte de dirigir carros. No entanto, Laio apaixonou-se pelo rapaz e o seduziu. Laio foi então amaldiçoado por Pélops: ele jamais conceberia um filho, pois, se o fizesse, morreria pelas mãos dele. Laio era casado com Jocasta. O oráculo de Delfos confirmou esta maldição e, por três vezes, avisou Laio para que não concebesse um filho. Somente se Laio morresse sem deixar prole é que Tebas poderia ser salva. Apesar dessa maldição e dos avisos, Laio concebeu um filho com Jocasta. Entretanto, com medo das profecias, o pai acorrentou os pés da criança e mandou um servo leva-lo para o monte Citéron. Compadecido com a sorte da criança, o servo a entregou a outro pastor que guardava o rebanho do rei Pólibo em seus domínios.

Enquanto o criado comunicava a Laio que executara suas ordens, o pastor levava a criança a seu amo em Corinto. Pólibo e sua esposa Mérope, cujo casamento não lhes dera filhos, adotaram a criança como se fosse sua. Pelo fato de ter os pés amarrados, deram-lhe o nome de Édipo. Édipo que crescia saudável, de nada sabia, senão que era filho de Pólibo de sua esposa Mérope, e que seria herdeiro do seu trono.

Durante um banquete, um corinto embriagado revelou a Édipo que ele não era filho do seu pai. Inquieto tomou satisfações com os pais sobre sua questão de paternidade. Estes tentaram acalma-lo, dissipando suas duvidas e afirmando que ele era filho legitimo. Contudo Édipo ficou desconfiado e por isso abandonou secretamente a casa de paterna a fim de consultar o oráculo de Delfos, com a esperança de que este lhe dissesse a verdade sobre sua origem. Mas tal qual Édipo suspeitava o oráculo não respondeu sua pergunta, porém ameaçou uma terrível previsão: ele se tornaria assassino de seu pai e o marido de sua mãe.

Para escapar deste destino, Édipo não mais voltou para casa, tomando o rumo contrário. Finalmente chegou a encruzilhada. Foi então que teve de decidir que rumo tomar, e escolheu o uma das três vias á disposição. Por força do destino escolheu o caminho que o fez encontrar Laio seu pai. Este estava a caminho de Delfos, acompanhado por um pequeno séquito de empregados, visando descobrir com o oráculo um modo de livrar Tebas da ameaça da Esfinge. Um servo exigiu que Édipo saísse do caminho para o carro passar, empurrando-o violentamente para o lado. Édipo, cuja natureza era colérica e impetuosa, agrediu o servo, recebendo de Laio uma pancada na cabeça. Cego de raiva, Édipo arrancou o ancião do carro e o matou, bem como a todos os criados, com exceção de um que conseguiu fugir.

Édipo seguiu viagem rumo a Tebas. Como já sabemos, Tebas estava ameaçada pela Esfinge, “a estranguladora”. Tratava-se de um monstro com corpo de leão e cabeça humana. Entre outras coisas, diz-se que Hera havia mandado a Esfinge a Tebas a fim de vingar a paixão de Laio e a sedução do jovem Crisipo. Portanto a Esfinge tomava conta da cidade e exigia que tebanos resolvessem um enigma: enquanto estes não resolvessem o problema tinham de sacrificar-lhe um jovem diariamente. Foi dessa maneira que morreu o filho de Creonte, Hêmon. Creonte era irmão de Jocasta e, depois da morte de Laio, assumira a direção de Tebas. Creonte mandara anunciar que aquele que dominasse a Esfinge receberia Jocasta e o reino como prêmio.

Édipo sentiu-se atraído por esta possibilidade e foi até os rochedos sobre os quais, de cócoras, a Esfinge ficava á espera para apresentar seu enigma. O enigma era o seguinte: “Qual é o ser que tem uma só voz, mas que de manã anda com quatro patas, no meio dia com duas e a tarde com três, distinguindo-se pela posição de todos os outros seres da terra, do céu e do mar, e que é mais fraco quando tem mais pernas?” E Édipo respondeu:” Ouve, mesmo se não quiseres musa dos mortos, as minhas palavras: segundo o vaticínio, agora teus atos terão fim! Fazes referencia ao homem que, quando pequeno engatinha sobre quatro membros, quando adulto usa as duas pernas e depois velho poia-se num bastão, pois tem de suportar o peso da idade”.

O enigma foi resolvido. A Esfinge se atirou do alto do rochedo e morreu. Édipo, como libertador de Tebas, recebeu o título de rei e se tornou marido da rainha Jocasta. Com ela concebeu quatro filhos, os gêmeos Etéocles e Polínice e as duas filhas Antígona e Ismênia. Édipo regeu Tebas, tendo sido um rei sábio e muito respeitado durante muitos anos.

Mas então os deuses mandaram uma peste sobre o país, que foi dizimado e tornado estéril. Depois que toda a sabedoria humana não conseguiu afastar o mal, Édipo enviou seu cunhado Creonte até o oráculo de Delfos a fim de buscar o conselho dos deuses. Ao voltar, este revelou ao povo reunido que os deuses haviam dito: a morte de Laio pesava como um grave dívida de sangue sobre Tebas. Enquanto não fosse vingada, não haveria salvação. Imediatamente, Édipo assumiu o papel de advogado desta questão. Surpreso pelo fato de ninguém ter encontrado o assassino na ocasião do crime, ele exigiu em altos brados que todos os cidadãos ajudassem na busca, revelando o criminoso. Assim que este fosse descoberto, seria expulso do país.

Ele mandou buscar o cego Tirésias, esperando que sua clarividência pudesse apressar a descoberta da verdade. No entanto Tirésias recusou-se com veemência, no inicio, a expressar sua opinião. Sob pressão e diante de ameaças do encolerizado Édipo, finalmente Tirésias disse abertamente que o próprio Édipo era o assassino de Laio e esposo da própria mãe.

Édipo não estava em condições de aceitar a verdade e suspeitou que, por trás dessa afirmação, se ocultasse uma intriga de Creonte. Édipo, que era capaz de ver, estava cego para a verdade que o vidente cego lhe revelou. Édipo desejava vingar-se de Creonte. No entanto, Jocasta tentou refrear a impetuosidade de Édipo, fazendo com que os dizeres do oráculo e do vidente caíssem no ridículo. Por essa razão ela contou o que o oráculo havia previsto anteriormente, ou seja, que Laio morreria assassinado pelo próprio filho. O fato de Laio ter sido morto na encruzilhada de uma estrada desmentia a veracidade dessas previsões.

Mas o que ela disse pretendendo acalmar Édipo, o atingiu no âmago do ser e causou-lhe grande inquietação. Ele continuou a investigar as circunstâncias exatas da morte de Laio. Quando soube da existência de um servo que havia escapado á matança, mandou busca-lo. Inesperadamente, apresentou-se um mensageiro vindo de Corinto com a noticia da morte de seu pai Pólibo. Ao mesmo tempo, esse mensageiro informouo da vontade, manifesta pelos cidadãos de Corinto, de aclamá-lo como o seu novo rei. Essas noticias acalmaram Édipo e Jocasta, ao que parecia, uma parte da profecia do oráculo se tornara impossível. Restou, contudo, o medo da segunda profecia, que dizia que ele se casaria com a própria mãe.

Esses temores o próprio mensageiro tentou dissipar, contando a Édipo que ele não era filho legítimo de Pólibo e de Mérope: ele mesmo assegurou o mensageiro, havia recebido o bebê que lhe fora entregue por um pastor e o levara ao casal real. Nesse momento chegou o criado que conseguiu salvar-se do ataque de Édipo em que Laio fora morto. O mensageiro de Corinto reconheceu nesse criado o pastor de quem certa vez recebera a criança.

Eis que não faltava nada para que a verdade fosse desvendada. Édipo descobriu sua verdadeira origem e tomou “conhecimento” das intenções de seus pais que quiseram matá-lo. Ele teve de reconhecer que matou o pai naquela encruzilhada e que tomou a mãe por esposa, gerando com ela quatro filhos, dos quais se tornou simultaneamente pai e irmão. Ele correu desvairado pelo palácio e procurou de espada em punho, por Jocasta em todos os aposentos, buscando assassina-la. Finalmente, encontrou-a enforcada em seu quarto de dormir. Ele a soltou, e com a fivela de ouro de seu vestido, furou os próprios olhos.

A ameaça de banimento que ele ordenara para o assassino de Laio se cumpriu nele mesmo que foi banido do país. Sua filha mais nova, Antígona, o acompanhou como guia, visto que Édipo estava cego, ao passo que Ismênia permaneceu em Tebas a fim de defender, dentro de suas fronteiras, os direitos do pai. Logo haveria uma luta pelo trono real entre os dois irmãos.

 

O mito de Adão e Eva

Assim nos relata o livro de Genesis a partir do capitulo 2 verso7 …Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente. E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, da banda do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado. Do solo fez o Senhor Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para o alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal. E saía um rio do Éden para regar o jardim e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços…, e o Senhor Deus deu-lhe esta ordem: De toda árvore comerás livremente, mas, da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea… Deu nome o homem a todos os animais domésticos, e a todos os animais selváticos para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea. Então o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o Senhor Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe. … Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam.

Mas, a serpente mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda arvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher, do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais. Então a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal. Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao seu marido, e ele comeu. Abriram-se então os olhos de ambos e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si. Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus, o homem e sua mulher por entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus ao homem e perguntou: Onde estás? Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e porque estava nu, tive medo e me escondi. Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore que te ordenei não comesses? Então disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore e eu comi. Disse o Senhor Deus à mulher: Que é isso que fizeste? A serpente me enganou, e eu a comi. Então, o Senhor Deus disse á serpente: Visto que fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás a luz filhos; o teu desejo será para o teu marido e ele te governará. E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa…e deu o homem o nome de Eva a sua mulher, por ser a mãe de todos os seres humanos. Fez o Senhor Deus vestimenta de pele para Adão e sua mulher e os vestiu. Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem tornou-se um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida e coma e viva eternamente.

O Senhor Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado…

 

Considerações

Os dois mitos descritos aqui trazem uma grande quantidade de alinhamentos principalmente no que tange a obediência, traição, mentira, desobediência, ordens, profecias etc.

Vejamos que no mito do Édipo havia uma recomendação de alerta do oráculo que dizia que se Laio tivesse um filho este o mataria e desposaria sua própria mãe. (Esta profecia estava ligada a maldição que Pélops lançou sobre Laio devido este ter seduzido seu filho Crisipo). Laio não deu ouvidos ao oráculo e como havia profetizado ocorreu. Sem o saber Laio matou o pai e desposou a mãe, e foi expulso de suas terras.

No mito de Adão e Eva há também uma ordem de proibição que dizia que se comecem da árvore do conhecimento a morte faria parte da vida humana que até então era eterna. E foi o que houve. A partir da desobediência o homem segundo o texto, passou a morrer.

Além deste ponto de inegável relevância há outros que são tão relevantes quanto e coincidentes nas duas histórias como, por exemplo, se apresentam a mentira, o engodo, a traição, o fugir a responsabilidades etc.

Entretanto de tantos caminhos a seguir o que desejamos destacar nestes relatos e apresentar segundo o olhar psicanalítico é o motivo pelo qual os episódios mais importantes destas sagas existenciais aconteceram tanto a morte de Jocasta quanto a mutilação de Édipo sacrificando sua visão e expulsão do país, como no mito de Adão e Eva a descoberta de que estavam nus e a expulsão do jardim do Éden.

Antes, porém, queremos trazer a tona um dos fundamentos psicanalíticos que fortalece o que desejamos trabalhar.

Gostaríamos aqui de destacar um dos mecanismos de defesa do ego mais utilizado e aparentemente o mais pernicioso á saúde psíquica humana; o recalque.

Segundo Freud, o recalque é a base sobre a qual se assenta toda a estrutura da Psicanálise. Diz ele que a essência do recalque repousa simplesmente na função de rejeitar e conservar algo fora da consciência. Genericamente diríamos sua finalidade é evitar a dor.

O recalque advém de um conflito de desejos que em tese não conseguem ou não possuem caminhos eficazes para conseguir satisfação. O recalque surge do conflito geralmente de conteúdo sexual ou suas ramificações e implicam em comportamento e se localizam em flagrante oposição a valores éticos, sociais ou pessoais etc. Naturalmente o recalque será o invólucro do sofrimento neurótico e o seu desnudamento, conforme propõe a psicanálise à liberação da energia represada possibilitando a suspensão ou mesmo diminuição do sofrimento.

Partindo deste principio a Psicanálise tem como estratégia exatamente trabalhar para que o que está inconsciente torne-se consciente e a partir daí buscar ressignificação do conteúdo para salvaguardar a vida sadia do individuo.

O que, entretanto, vemos nestas obras citadas, o mito de Édipo e de Adão e Eva é que a partir da tomada de consciência de que havia acontecido algo de errado ou presupostamente errado em suas vidas ao invés de dar-lhes algum alivio como o pretende a Psicanálise, ao contrário suas vidas foram sacrificadas em função de um ato de transgressão de uma “lei”, ordem, alerta, aviso. Ora Laio, não tinha a menor consciência de que havia matado o pai e desposado sua mãe e por isto não pesava sobre ele nenhuma culpa consciente do ocorrido. Eva ao contrario havia sido avisada, mas, deixou-se levar pelo desejo e ingenuamente deposita sua confiança na serpente representante deste seu desejo e cede a tentativa deste desejo e Adão presupostamente sem o saber cai no mesmo nível de transgressão da “lei”, ordem, alerta, aviso, e por tal movimento é julgado culpado e junto com Eva expulso do Éden.

O que queremos contrapor aqui é que muito ao contrário do que os textos preconizam a tomada de consciência de seus possíveis erros e procedimentos, julgados inconvenientes e ou antiéticos a Psicanálise vem na contra mão destes alicerces sociais propondo que se ouça o individuo em suas posturas inconscientes, não julgando nem prejulgando qualquer procedimento e muito utilizando do inconsciente para aliviar o sujeito de suas dores utilizando os próprios episódios anteriormente julgados como penosos ou pesarosos para tirar a culpa que carrega sobre os ombros.

 

Conclusão

Corroborando com Freud e com toda teoria psicanalítica o que foi recalcado urge em desrecalcar para que o sofrimento diminua ou até mesmo desapareça, mas para isto ao contrário dos épicos escritos, a tomada de consciência é fundamental e não o motivo do julgamento ou da condenação.

O que se nos apresenta é que como se não houvesse alguma outra forma, mais cedo ou mais tarde o recalcado há que apresentar-se e quando deste ressurgir, ser utilizado para a libertação e não para a condenação conforme os dois textos enfatizam e preconizam. Em se fundamentando nos textos, não há saída ao ser que erra ou presupostamente erra a não ser como ocorre nos dois episódios, o exílio a espera da morte.

Mostra-se assim a psicanálise como um último reduto de salvação diante das dores e sofrimentos advindos da inconsciência.