Édipo na vida cotidiana

Nilton de Oliveira/Psicanalista


A notabilizada Tragédia Grega apresenta e discute teorias como: poder pessoal,
público, e limites reais e imaginários da atividade humana.
Em forma de espetáculo público a exposição funciona como mecanismo educador
dos caminhos a serem trilhados na polis, detalhando prós e contras que esta ou aquela forma de
agir compromete ou não bem comum.
É neste intuito que Sófocles apresenta a tragédia Édipo. Uma peça teatral dividida
em três atos:Édipo Rei, Édipo em Colonia e Antigona onde cada um dos atos dinamiza um
determinado comportamento e o modo como este há de mover pessoas dentro da polis.
O trecho mais exposto em toda história nos parece ser o de Édipo Rei representado
no primeiro ato da peça cujo conteúdo Sigmund Freud pai da Psicanálise pediu emprestado para
denominar um pequeno período do desenvolvimento humano ainda quando infante, o qual seja,
um período que vai mais ou menos dos 3 aos 6/7 anos de idade onde fica muito bem definido um
amor do filho/a pelo genitor do sexo oposto que chamou de Complexo de Édipo. Esta afirmativa
custou lhe muito caro em amizades, reconhecimento profissional diante de uma sociedade
puritana da época que de forma alguma imaginaria permitir que uma criança viesse a desejar seu
pai ou sua mãe sexualmente falando. Entretanto ao longo da historia Freud tem seu trabalho nesta
área reconhecido a partir das observações que de ora em diante começaram a surgir.
Naturalmente a visão sobre a relação intima com o genitor do sexo oposto deu lugar ao mais
adequado desejo, que seria a posse do genitor do sexo oposto para si, tendo em vista o narcisismo
como fonte natural do desejo infantil. Mais tarde ao longo do desenvolvimento teórico da
psicanálise observou-se que o desejo de posse poderia ser não somente pelo genitor do sexo
oposto mas sim e também pelo de mesmo sexo, sendo este ponto uma das possibilidades do
surgimento de um núcleo homossexual na personalidade.
Obviamente muitos se opuseram e se oporão a esta afirmativa, contudo, o dia a dia de consultório
tem mostrado que tal teoria tem mais prós do que contras.
O complexo de Édipo não poderia ficar só por aí como se isto já não fosse o bastante
mas, sua influência vai bem mais longe na conduta humana. É através do conflito gerado pelo
desejo de possuir o genitor para si, agora pouco importando se de mesmo sexo ou sexo oposto e
a impossibilidade de êxito nesta empreitada, que o humano vai buscar em outras searas a
satisfação deste desejo impossível. É neste ponto que inconscientemente buscará parceiro ou
parceira que traga lembranças e conteúdos do genitor pelo qual se gastou tanta energia pulsante
enquanto infante. É no atendimento da lei das proibições que o adulto aprenderá desde infante a
viver em comunidade, obedecendo as leis colocadas para que haja bom convívio na polis, é pelo
conteúdo da peça edipiana que veremos como os irmãos vivem contrapondo-se de inveja pela
posse dos genitores e dos bens que por ventura estes deixarem na sua partida. Enfim a peça
teatral de Édipo espalhou ramificações em todas as áreas da atividade humana.
É a partir do estudo desta peça teatral da antiguidade que a sociedade pode ser
explicada. Não foi sem razão que Freud grande estudioso da mitologia fincou bases sobre a
estória edipiana para entender a sociedade de seu tempo e as vindouras como a nossa.
Se quisermos entender o mundo que vivemos é preciso gastar tempo observando e
estudando a história como contada na estória de Édipo.