O paciente e o analista
Roberto Alexander de Oliveira Gonçalves / Presidente do IBPC
A mente é uma imensa floresta, sujeita a todas as intempéries da natureza. Assim como as árvores balançam nas tempestades, os rios transbordam ou secam, os animais se apavoram e fogem, o contato com as mãos humanas são devastadores, a mente também sofre todos dissabores no transcorrer na vida.
O grande escritor Guimarães Rosa eternizou a frase “Morrer é fácil, viver é que são elas”, sinalizando a difícil arte de passar pela vida, porque nossa mente, depósito das emoções, exige cuidados especiais, como a floresta necessitada de proteção permanente.
No difícil jogo da vida, dois atores tentam vencer as complicadas regras da partida. De um lado, o Psicanalista e seu divã, preparado para vencer a árdua tarefa de trabalhar a mente, essa floresta que desafia todas as leis da natureza. De outro lado, o paciente, a mente que busca respostas na análise, lembrando um beija-flor que retira das flores o néctar de sua sobrevivência.
A relação de cumplicidade do analista com o paciente começou com Freud e continua se aperfeiçoando, porque a Psicanálise já é uma teoria vitoriosa. Quando a ciência provar que o inconsciente não existe; que a livre associação de idéias é uma mentira; que o divã é uma peça superada e a felicidade só existe na literatura, será o fim da Psicanálise e também o fim do mundo. O desempenho profissional do Psicanalista, na frenética persistência pela vitória do paciente, é o maior exemplo que a floresta da mente pode ser preservada.
O paciente é um corpo deitado no divã, sempre buscando a direção para ficar em pé na vida, assim como as árvores lutam para se manter vivas na floresta. O Psicanalista é um corpo sentado ao lado do divã, sempre perseguindo, implacavelmente, ocupar um espaço em favor da felicidade.
Assim como os pássaros, cantores da floresta, anunciam o amanhecer, o Psicanalista tenta, em silêncio, decifrar os enigmas da mente de seu paciente. O Psicanalista deve ser um defensor intransigente de uma sociedade que supere suas contradições, deixando de mutilar os egos e lesar a dignidade humana. E o paciente é o maior beneficiado nessa luta. O Psicanalista deve ser um militante da cidadania. Uma psicanálise aprisionada no consultório, isola o profissional do paciente que cobra sua opinião e seu grito em favor da vida.
Qual a posição do Psicanalista sobre exclusão social, violência, hegemonia e dominação? Os Psicanalistas da década de 40 denunciaram Hitler, solidários com seus pacientes oprimidos pelo nazismo.
Para ajudar seu paciente vencer as tempestades na floresta da mente, o Psicanalista precisa ampliar seu universo de informações, ferramenta fundamental para ingressar na especificidade de cada paciente. O domínio das ciências humanas, biológicas e sociais, adicionadas com atividades culturais, faz do Psicanalista um dos profissionais mais amplos e qualificados da comunidade científica.
Em respeito ao paciente, o Psicanalista precisa conter o abuso da linguagem psicanalítica em seu cotidiano. Falemos também do sol, das estrelas das curvas de nossas montanhas e das cachoeiras que imitam a sinfonia da natureza. É muito importante que o Psicanalista sonhe como uma pessoa comum, estimulando seus pacientes fazerem o mesmo, porque sonhar é a legítima defesa do espírito. O Psicanalista precisa administrar o brilho do próprio ego, consciente que o paciente é a única estrela do espetáculo! É muito importante a consciência profissional do tripé que sustenta a vitória psicanalítica: a psicanálise é o instrumento, o paciente é o protagonista, logo razão principal e o psicanalista é o ator coadjuvante!