O Trabalho em Análise

Márcia Limoni/Psicanalista formada pelo IBPC - Instituto Brasileiro de Psicanálise Contemporânea


A figura materna é essencial para a sobrevivência do bebê, visto que é ela, quem remeterá os primeiros cuidados à criança, a qual se encontra em dependência absoluta, além de estabelecer com a criança, conforme aponta Brenner (1987), a primeira relação de objeto, onde a mãe, para ambos os sexos, configura-se como esse primeiro objeto o qual o bebê investe sua libido.

Para exercer a função materna de forma “eficiente” é necessário que a mulher tenha internalizado experiências consideradas boas com suas próprias figuras cuidadoras. Freud, em relação à Estruturação Psíquica, enfatizou mais a função paterna, porém, não deixou de considerar a importância da figura materna, no que concerne ao facilitar a entrada de uma terceira pessoa na relação, no caso, o pai.

Contudo, distanciando do paradigma edípico proposto por Freud, alguns teóricos, como Melanie Klein e Winnicott atribuíram à mãe a função central no desenvolvimento da criança.

Conforme Winnicott (apud Brum e Schermann, 2004), a mãe tem função primordial no desenvolvimento emocional do bebê, de dependência para independência. Sendo que a dependência é absoluta quando o bebê nasce, mas diminui ao longo da vida. A mãe “suficientemente boa” propicia a integração do bebê, juntando as partes soltas em um mesmo corpo, e identificando-se com ele numa mesma unidade.

Bion (apud BLEICHM AR e BLEICHMAR, 1992, p.253), um pós-Kleiniano, defende a ideia de que há um vínculo, desde o nascimento, entre mãe e bebê, onde o bebê apresenta, além das necessidades corporais, necessidades psicológicas também. Já a mãe, configura-se como uma espécie de continente que, quando a angústia do bebê for intolerável, este pode descarregar em sua mãe, a qual se possuir certas capacidades emocionais, “poderá absorvê-las, metabolizá-las, devolvendo-as de maneira menos angustiante, e, portanto, mais assimilável para seu filho”. Ainda, segundo Zimerman (1999), a teoria de Bion, tem um valor equitativo, pois considera tanto o meio externo (extremo valorizado na teoria de Winnicott), quanto o mundo interno (extremo assumido por Klein) para a formação e desenvolvimento do psiquismo humano.

Contudo, sendo teoria “seiocêntrica” ou não, a importância da função materna não é descartada e nem perde sua importância. Conforme apresenta Zimerman (1999, p.106), a função materna pode ser normal ou patológica, e tem consequências diretas na estruturação do sujeito. Segundo o autor e de acordo com o que o presente trabalho se propõe de modo sucinto, uma adequada maternagem caracteriza- se pela não frustração ou não gratificação excessiva, ou mesmo, a privação da frustração ou gratificação. Assim, uma normalidade da função materna deve, acima de tudo, visar uma dessimbiotização” e abrir caminho para a entrada de uma terceira pessoa na relação, um pai, respeitado e valorizado como tal. Desta forma, a mãe está promovendo a passagem para a Triangulação Edípica, fato precursor e decisivo para a formação das Estruturas Clínicas.