Vamos falar sobre o suicídio?

Paulo Galeto/Psicanalista


Entre o trauma, a dor e o ato – Um enigma para a psicanálise:
Neste mês corrente, evidencia um projeto chamado de Setembro Amarelo, é o mês que incentiva a
prevenção contra o suicídio.
O suicídio é um enigma para a Psicanálise, porque não é um ato inconsciente que o indivíduo faz sem
pensar, tão pouco um princípio de determinismo psíquico, ou seja, não acontece por acaso e nem é uma obra
do destino dito pelo senso comum. Pelo contrário, é um ato planejado, testado, ensaiado, bem elaborado e
muito bem articulado pelo agente causador, neste caso a própria pessoa que tira sua vida. Sendo assim, por
que a morte se apresenta como a única saída? Responder essa pergunta torna-se um enigma para diversas
ciências, inclusive para a Psicanálise.
Cada um tem a sua história, embora o ato em si, inicia-se através de um gatilho que leva sempre ao
mesmo resultado – A morte. O gatilho é causado por um evento externo, como: bulling, violência sexual ou
psicológica, traumas, dívidas, término de relacionamentos, entre outros fatores. Porém, há também conflitos
internos como: vazio existencial, perda o sentido à vida, desamparo, culpa, negligencia, abandono, desilusões,
ter pensamentos obsessivos em querer acabar com a própria vida. Tais conflitos podem chegar a um nível
insuportável e a dificuldade de superar a dor chega ao ponto de querer tirar a própria vida. Para Freud (1926)
o ato suicida é uma saída para esses conflitos. Podemos entender que a tristeza, o luto, a melancolia, a
angústia, a dor, são fatores inerentes a nossa existência, porém, não significa que a pessoa deprimida irá
cometer suicídio. A depressão é um estado, é um fator de risco, não a causa.
Para a psicanálise a existência das pessoas é permitida porque elas elegem um ideal, supostamente,
esse ideal vai preencher o vazio existencial, é o objeto de desejo, que faz com que as pessoas busquem
continuamente ao longo da vida e se tornem seres desejantes e vivos. O deprimido e o melancólico,
supostamente desistem desse objeto de desejo. E por estar sufocado, mergulhado na angústia, na dor, o corpo
responde a esse vazio. Outro ponto importante para os psicanalistas é entender que a melancolia está ligada
a perda desse objeto. Ver em: “Luto e melancolia”. Freud (1915).
O sujeito melancólico está identificado com esse objeto (pode ser a mãe, o pai, a pessoa amada, uma
causa, etc), há uma fixação nesse objeto. Freud explica que essa fixação é uma Identificação narcísica, ou
seja, o sujeito e o outro é uma coisa só. Significa que para “descolar”, separar, a pessoa desse objeto, é como
perder o objeto ao qual está identificado, perder sua essência causa uma ferida, que pode se tornar
insuportável. E por estar identificado ao outro, não restou mais nada. Essa identificação ao “nada” é o maior
problema, porque caminham no deserto, há uma deserção, é um desejo alhures. Por isso que o melancólico
está sempre tentando encontrar alguém, e quando encontra, ele “cola” nesse outro e passa a se identificar com
ele. Passa a ser uma sustentação imaginária. É uma ferida narcísica, porque o outro real, dá ao sujeito a
constituição que precisa. Freud (1915) afirma que o “suicídio é um homicídio”, ou seja, matar-se é matar o outro
ao qual está identificado. A Psicanálise sempre usa o mesmo protocolo, ou seja, dar voz ao paciente para que
ele fale de sua história de vida, seus traumas, angústias. No caso de pessoas com uma ideação suicida não há
como explicar o que acontece sem conhecer a singularidade de cada caso, é muito sutil, muito particular.

Notas separada do texto:
1. Dados do SIM (Sistema de Informações de Mortalidade) apresenta a média da cidade de Jales, já esteve
acima da média Nacional em 2013, com média de 6,16 óbitos a cada 100 mil habitantes. São dados
alarmantes que tem preocupado o Min. da Saúde e a Gestão Pública da cidade.
2. Setembro Amarelo, ficou assim conhecido pelo fato que ocorreu em 1994, do americano Mike Emme,
que se suicidou com apenas 17. Ele possuía grandes habilidade em mecânica e sozinho restaurou um
Mustang e o pintou de amarelo. No dia do seu funeral, uma amiga distribuía cartões e fitas amarelas
para quem quisesse pegá-las. A mensagem no cartão possuía a seguinte mensagem: “Se você precisar
de ajuda, peça”. Em pouco tempo, essa mensagem se espalhou pelo EUA e começaram a surgir mais
pedidos de ajuda. Devido à grande repercussão, a fita na cor amarela foi escolhida como símbolo do
programa que incentiva aqueles que têm pensamentos suicidas a buscar ajuda. A OMS, decretou o dia
10 de setembro, para ser o dia mundial da prevenção do suicídio.